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Receitas para uma noite saudável

Dísturbios do sono podem trazer complicações para a saúde, o trabalho e a vida

Dor de cabeça matinal, irritabilidade, mudanças de humor, sonolência excessiva, ansiedade e falta de concentração. Se você possui esses sintomas frequentemente, fique atento: pode estar sofrendo do distúrbio do sono. A revista Corpore conversou com a neurofisiologista Dra. Olga Judith Hernandez Fustes, que é especialista nesse assunto e vai explicar as causas desses problemas e quais as possíveis soluções para voltar a ter um sono tranquilo.
Revista Corpore – O Distúrbio do sono é uma doença comum?
Olga Judith – Segundo pesquisas, 70% da população ativa são atingidas por distúrbio de sono no país. O problema começa às vezes por causa da sobrecarga de atividade, o esgotamento e a falta de tempo para o lazer; esses fatores, em conjunto, contribuem para a má qualidade do sono, responsável por recuperar o indivíduo e ajudar na produção de hormônios responsáveis pelo bem-estar. O bom sono não está diretamente relacionado ao tempo que se passa dormindo, o importante mesmo é a qualidade.

 

Revista Corpore – O que é apnéia?

Olga Judith – A apnéia é  um bloqueio da passagem de ar pela via aérea superior por pelo menos dez segundos, nos quais a pessoa para de respirar. Como os pulmões não estão conseguindo receber o ar, o cérebro envia uma mensagem, ativando os músculos da garganta e desbloqueando a passagem de ar.Com um alto suspiro, a respiração começa novamente. Este processo pode se repetir várias vezes durante a noite, tornando o sono superficial e fragmentado. Mesmo não recordando de ter acordado várias vezes à noite, a pessoa se sente cansada durante o dia.

 

Revista Corpore – Você informa que ao sofrer distúrbios do sono a pessoa pode adquirir problemas de saúde? Quais?
Olga Judith –  Os problemas estão relacionados à síndrome metabólica, um conjunto de fatores que pode levar ao surgimento de diversas outras enfermidades, como obesidade, hipertensão, diabetes, sonolência diurna, falta de memória, risco de dormir ao volante, baixa libido, depressão e diversas outras patologias. A deficiência de sono causada pela apneia pode lesar os pulmões, coração e outros órgãos, causando problemas como pressão alta, infarto ou até o derrame cerebral.

 

Revista Corpore – Quantas noites é preciso dormir mal para sentir os problemas?
Olga Judith – Perder uma noite de sono já pode significar um dia seguinte muito cansativo. Mas, se o problema é recorrente, então a pessoa pode sofrer uma série de problemas de saúde. O sono, para ser restaurador, deve passar por quatro fases: sonolência, relaxamento e aprofundamento, até chegar ao sono REM (Rapid Eye Movement ou movimento rápido de olhos). Nessa fase o sono se torna profundo e o corpo e a mente se restabelecem. As pessoas que sofrem com distúrbios do sono acabam tendo o ciclo interrompido e, por isso, não têm um sono de qualidade.

 

Revista Corpore – E como detectar o problema? Quais são os sintomas?
Olga Judith – A pessoa com o distúrbio frequentemente tem dores de cabeça matinal, irritabilidade, mudanças de humor, sonolência excessiva, ansiedade, problemas de memória e falta de concentração, variações da pressão arterial e hormonais, arritmias cardíacas e ronco. É preciso procurar um especialista e realizar exames indicados. O mais comum é a polissonografia, em que, com eletrodos pelo corpo, o paciente passa por vários testes, como eletroencefalograma, eletro-oculograma, eletromiograma, eletrocardiograma, fluxo aéreo, bandas toracoabnominais, sensor de posição, sensor de ronco e oximetria.

 

Corpore – Quem convive com uma pessoa que ronca também pode sofrer desse mal?
Olga Judith – Sim. E quem dorme ao lado de um (a) roncador(a), sofre quase que os mesmo danos, desde a sonolência diurna, mau humor, depressão, cansaço… pode chegar a perder 40% da capacidade auditiva. Estas pessoas podemos chamar de roncadores passivos, e muitos acabam tendo que fazer uso de remédios para dormir.

Revista Corpore – Quais são os tratamento para esse mal?
Olga Judith – Há quatro formas de tratamento: a cirurgia, pouco praticada, mas indicada principalmente para pessoas que apresentam algum problema nas vias respiratórias; o CPAP (Continuous Positive Airway Pressure), uma turbina que, girando a uma rotação pré-determinada, leva o ar à laringe, utilizando uma máscara de silicone colocada sobre o nariz, indicado para casos mais severos; o aparelho intraoral, que melhora a ventilação e facilita a respiração, indicado para casos moderados e tratamento cirúrgico especificos; e o mais recente avanço é a fisioterapia feita por fonoaudiólogos, que atua no tratamento da apneia fortalecendo os músculos da região, ensinando o paciente a respirar melhor. Esta terapia vem atuando significativamente na diminuição dos índices de apneia.

 

Corpore – Como especialista, quais dicas você dá para um sono saudável?
Olga Judith – Com certeza, a primeira iniciativa é a prevenção, e mudar os hábitos é a chave para evitar ou amenizar os problemas. Um exemplo é ter uma rotina, acordar e dormir sempre no mesmo horário, praticar alguma atividade física regularmente e tentar manter sempre a higiene do sono, isto é, não fazer uso de bebidas alcoólicas antes de dormir, evitar consumo de produtos com cafeína, fazer refeições leves à noite, e nunca ir para cama com fome.leves à noite, e nunca ir para cama com fome.

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