Fonoaudiologia

Voltando a ouvir

A perda auditiva pode ser revertida com a ajuda de dispositivos tecnológicos que devolvem ao paciente muito mais do que o maravilhoso mundo dos sons

Ouvir parece algo naturalmente simples, mas para quase 500 milhões de pessoas, aproximadamente 7% da população mundial, essa função está comprometida, o que torna a vida um desafio. Problemas causados por exposição a ruídos altos, alterações auditivas congênitas, danos por doenças infecciosas como meningite, infecção crônica dos ouvidos, ferimentos na cabeça e partes dos ouvidos, envelhecimento e até mesmo a utilização de alguns medicamentos ototóxicos podem levar à perda auditiva.

O interessante é que existe a prevenção para algumas das causas desse tipo de perda, com pequenos cuidados no dia a dia – como programas de vacinação contra doenças infecciosas, utilização de protetores auditivos durante o trabalho e atividades com ruído excessivo, além de evitar o uso frequente de fones de ouvido. Atualmente, mais de 1 bilhão de jovens, entre 12 e 35 anos, estão na faixa de risco devido à superexposição a ruídos recreacionais, até mesmo em shows e apresentações musicais.

O aumento de casos de perda auditiva levou a Organização Mundial de Saúde a lançar uma iniciativa que busca garantir práticas de segurança e proteção da audição, desenvolvendo e implantando padrões para equipamentos, como os de telefonia celular, regulando a exposição aos ruídos e fornecendo informações aos usuários para que evitem riscos e sigam as orientações com a utilização dos seus aparelhos.

Quando a perda vai além da audição

Ouvir é fundamental para a percepção do indivíduo em relação ao ambiente que o rodeia, por isso os problemas auditivos são tão impactantes na vida de qualquer pessoa. Deixar de ouvir ou ouvir menos é um problema grave. Os transtornos causados pela perda da audição vão além de não poder ouvir mais, segundo o médico especialista em Otorrinolaringologia do Hospital Iguaçu, Dr. Otávio Zanini, que atua na área audiológica há cinco anos. “Acaba ocorrendo um certo afastamento dos familiares e amigos pela dificuldade de compreensão e falta de paciência com a pessoa acometida pela perda auditiva, a qual não consegue se comunicar de forma fácil e eficaz, levando à solidão, frustração e a quadros de depressão, principalmente entre os idosos”, explica. A vida social e profissional do indivíduo na maioria das vezes é prejudicada; e aí começam outros problemas, por isso enfrentar a perda auditiva é de extrema importância.

Outras doenças podem acometer pessoas que sofrem de perda auditiva. Por exemplo, naquelas com mais idade, um número crescente de estudos tem observado associações entre surdez e quadros de demência. O risco aumenta conforme a intensidade da perda auditiva. Mesmo nas perdas leves há 2x mais risco para demência, nas moderadas 3x e nas severas o risco para demência aumenta em 5x.

As crianças também estão sofrendo com a perda auditiva. Nos primeiros anos de idade, um bebê com desenvolvimento das vias auditivas comprometido pela ausência ou atenuação de dados de áudio no cérebro faz com que ele tenha dificuldade no aprendizado da fala. “Esse acometimento na criança terá consequências para o seu futuro, por isso é tão importante ficar atento e procurar tratar o mais cedo possível”, afirma Dr. Otávio.

Entenda a perda auditiva incapacitante

Uma pessoa é capaz de ouvir até mesmo o mais baixo dos ruídos, nas mais variadas frequências. Já aquela com prejuízo na audição não consegue discernir sons de 25 decibéis ou mais. As perdas auditivas podem ser leves, médias, severas ou profundas. O problema da incapacidade pode afetar um ou os dois ouvidos, causando certa dificuldade para identificar sons, em especial conversas em lugares abertos e com barulhos externos.

Uma das maiores causas da perda auditiva é o envelhecimento, chamada de presbiacusia, e todas as pessoas passarão por algum grau de perda auditiva. “Alguns fatores podem contribuir para o aparecimento desse quadro: exposição contínua a ruídos altos, uso excessivo de alguns tipos de medicamentos, infecções, tabagismo, doenças como diabetes, hipertensão, bem como traumas na região próxima ao ouvido”, alerta o especialista. O diagnóstico precoce e a intervenção, logo no início, melhoram a vida do paciente e evitam a progressão da perda.

Suporte da família facilita a reabilitação do paciente

Muitas pessoas são tratadas com preconceito e acabam por se isolar; acham que o tempo em que foram capazes de ouvir é uma lembrança distante, mas se enganam, pois, com ajuda profissional e apoio da família, já é possível voltar a ouvir. “Claro, o suporte das pessoas de seu convívio é essencial para que o paciente entenda que precisa desse sentido para manter sua vida social, familiar e produtiva. Além de não deixar que um obstáculo seja o suficiente para barrar sua vontade de ouvir novamente com plenitude”, destaca Dr. Zanini. Por isso, entender a condição e aceitá-la são grandes passos em direção à reabilitação, algo que a medicina moderna pode propiciar aos pacientes. Porém, é necessária uma análise minuciosa e individual do paciente, conforme o tipo de perda sensorial, tempo e condições clínicas. São muitas as opções para quem está apto à reabilitação auditiva, e, com as tecnologias presentes, há uma variedade enorme desses recursos.

“Acaba ocorrendo um certo afastamento dos familiares e amigos pela dificuldade de compreensão e falta de paciência com a pessoa acometida pela perda auditiva, a qual não consegue se comunicar de forma fácil e eficaz, levando à solidão, frustração e a quadros de depressão, principalmente entre os idosos.”

Sistemas auditivos implantáveis

As estratégias de tratamento direcionadas à melhora auditiva representam importante área de crescimento tecnológico na medicina. Na reabilitação dos diversos tipos de surdez, os implantes ativos são um complemento útil para a prótese auditiva convencional e já tem lugar na aplicação clínica.

O espectro de indicações para sistemas auditivos implantáveis cresce juntamente com o avanço e aperfeiçoamento desses dispositivos. Atualmente, existem recursos para reabilitação de diferentes tipos de perda auditiva, devido às diversas possibilidades de acoplamento dos dispositivos. As perdas auditivas neurossensoriais (por dano ou envelhecimento da cóclea), as perdas condutivas (por dificuldade de transmissão dos sons através do sistema tímpano-ossicular) e também as perdas mistas, todas podem entrar nos critérios de indicação de algum dos sistemas auditivos implantáveis.

Dentre as tecnologias hoje disponíveis, podemos agrupar os sistemas auditivos em total ou parcialmente implantáveis. Eles consistem em duas partes: processador de fala externo (com microfone e bateria) e implante com acoplamento à orelha interna, aos ossículos ou à calota craniana.

Novos mecanismos de junção dos implantes permitem o tratamento de pacientes submetidos às cirurgias prévias dos ouvidos, com malformações da orelha, danos à membrana do tímpano ou falta de ossículos e não somente aqueles com perdas auditivas severas/profundas. Existem critérios médicos, audiológicos e anatômicos específicos para cada paciente candidato a esse tipo de reabilitação, por isso a importância de uma avaliação com especialista.

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