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O que esperar da cirurgia bariátrica

Se você é um dos quase 40 milhões de brasileiros que sofrem com a obesidade, ou tem alguém próximo que enfrenta esse problema, você sabe muito bem o quão difícil é conviver com a doença. Além das graves complicações de saúde, tudo é um desafio na vida do obeso: frequentar a academia, comprar roupas, ir a festas ou conquistar uma vaga de emprego. Perder peso, então? Ah! Se isso é penoso a qualquer mortal, imagine quando não são somente aqueles dois quilinhos a mais que incomodam. É por isso que o número de cirurgias bariátricas cresceu tanto no país. Mas se você está na lista de candidatos à cirurgia, ou tem algum familiar nessa situação, é muito bom estar informado e saber o que esperar desse tratamento.

Algumas pessoas pensam que basta marcar uma consulta com um especialista e já agendar a cirurgia. Têm aquelas que acham que é só operar e está tudo resolvido e outras ainda, que a cirurgia é um tipo de procedimento de beleza. Enfim, são muitos mitos em torno de um assunto sério que precisam ser esclarecidos.

“A primeira questão importante a se entender é que a cirurgia bariátrica deve ser encarada como a última alternativa de tratamento. Antes dela, o candidato deve se submeter a outras abordagens de tratamento clínico, com orientação médica, por pelo menos dois anos”, explica o cirurgião de aparelho digestivo Paulo Nassif, que coordena uma equipe multiprofissional de tratamento da obesidade.

A cirurgia é indicada geralmente para quem sofre com a obesidade grave, ou seja, com Índice de Massa Corporal acima de 35, com a associação de outras doenças (como diabetes, hipertensão arterial, colesterol, problemas articulares, distúrbios do sono, entre outras) ou, simplesmente, com IMC igual ou maior a 40, quando somente o peso já é considerado um alto risco.

Muitas pessoas acreditam, erroneamente, que a cirurgia bariátrica é um procedimento estético. Ela não tem absolutamente nada a ver com beleza. A obesidade é uma doença grave e complexa, por isso, antes da liberação para a cirurgia, todo candidato deve ser submetido a uma bateria de exames e diversas consultas com especialistas de diferentes áreas da saúde, que vão avaliar as condições clínicas e darão as devidas orientações, tanto para a fase pré-operatória como para o pós-cirúrgico.

“Essa é uma fase muito importante para que tanto o obeso como seus familiares entendam todo o tratamento e tirem suas dúvidas. Por isso, além das consultas, procuramos oferecer palestras e materiais de leitura para que eles se sintam seguros de que essa é a melhor alternativa de tratamento e compreendam o quão importante é seguir as orientações adequadamente”, ressalta o cirurgião.

Isso porque também é durante esse processo que o paciente recebe as orientações sobre a necessidade de mudanças de hábitos de vida como parte fundamental do tratamento, pois, diferentemente do que muitos pensam, a cirurgia não age sozinha. De acordo com Dr. Paulo Nassif, ela é uma importante ferramenta de ajuda e aceleração no processo de emagrecimento, mas, para se ter sucesso pleno e duradouro, é necessário abandonar a vida sedentária e adotar hábitos de alimentação equilibrada. Coisas que geralmente são facilitadas com o grande e rápido emagrecimento que a técnica cirúrgica provoca.

Outro fator importante a se destacar e que a cirurgia geralmente proporciona é o controle ou redução das doenças associadas – um dos aspectos mais importantes, sem dúvida nenhuma, uma vez que reduz expressivamente os riscos a que o paciente está exposto.

Permitindo-se sonhar novamente

A agonia de brigar contra a balança, fugir do espelho, das fotos, das festas e de outras tantas situações embaraçosas que o sobrepeso trazia, começou com a chegada da adolescência para a comerciante Letícia Cosmo Roderjan e paulatinamente foi se agravando até atingir os assombrosos 100 quilos. Aos 26 anos, o que mais a amedrontava era pensar no futuro. Com uma carga genética de sobrepeso e obesidade, a jovem sabia bem o quanto a doença poderia lhe custar caro e, por isso, fez tudo que pôde para vencer a doença – desde tratamentos clínicos convencionais até todos os tipos de dietas que as redes sociais, amigas ou vizinhas lhe ensinavam.

De nada isso lhe serviu a não ser a frustração de perder uns quilinhos aqui e recuperar muitos outros ali – o famoso “efeito sanfona”, que fazia parte de seus pesadelos. “Com tantos resultados negativos, eu acabei me acomodando com a situação e passei a deixar de lado os meus sonhos; parecia que aquilo, definitivamente, não era para mim”, lembra Letícia.

Cansada desse vai e vem, das dores nos joelhos, tornozelo e coluna e já com seus níveis de glicemia, colesterol e triglicerídeos alterados, a moça resolveu buscar informações sobre a cirurgia bariátrica. Como a maioria das pessoas, fez uma varredura na Internet, em revistas e leu tudo o que podia sobre o assunto. Seu segundo passo foi conversar com conhecidos que já haviam operado e, por fim, agendar uma consulta com um especialista e, em seguida, adentrar no processo para operar.

Durante esse tempo de consultas, exames, avaliações e orientações, Letícia pôde entender todo o procedimento, aprender o que é uma vida com saúde, esclarecer todas as suas dúvidas, compreender a relação riscos versus benefícios, se preparar, física e emocionalmente, para a cirurgia e se conscientizar da importância de modificar seus hábitos de vida. “Estou apaixonada pela academia, vou fazer minha cirurgia plástica muito em breve, voltei a desejar conhecer o mundo, quero me casar tão logo seja possível e em breve vou retomar minha carreira de biotecnóloga”. É assim que ela se define após nove meses da cirurgia e com 44 quilos a menos, o dobro de disposição e o triplo de disciplina com a dieta alimentar.

Além de todas essas mudanças fantásticas, com o tratamento ela ainda se livrou do colesterol, pré-diabetes, triglicerídeos altos e das dores articulares. Nada mal para quem tinha medo do futuro e já havia desistido de sonhar, não é mesmo?!

“O propósito da cirurgia bariátrica é justamente proporcionar ao operado uma melhora geral em suas condições de vida, primeiramente restabelecendo sua saúde, mas sem deixar de lado os aspectos emocionais, sociais e profissionais, que são tão afetados pela obesidade. Ao emagrecer, o paciente tem mais disposição para se exercitar, mais ânimo para seguir a dieta alimentar, e a sua autoestima se eleva; além de, evidentemente, ter mais facilidades para as suas atividades do dia a dia”, finaliza Dr. Paulo Nassif.

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