Fonoaudiologia

Que barulho é esse?

Fique atento! Não é por causa do zumbido que você não está ouvindo bem, ele pode ser uma consequência da perda de audição

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Você já teve a nítida sensação de que não está escutando porque tem um zumbido atrapalhando? Na verdade, é ao contrário, ou seja, primeiro você teve uma perda auditiva e isso fez com que o zumbido aparecesse. Ele é uma consequência de que algo está errado no ouvido ou nas vias auditivas. E você não está sozinho nessa, 17% da população mundial escuta, regularmente, este som incômodo, e 20% apresenta um impacto negativo em sua vida. O ruído é percebido pelo indivíduo sem que uma fonte externa o produza. Está relacionado com o aumento dos impulsos elétricos que a via auditiva envia ao córtex cerebral, geralmente, como consequência de uma perda auditiva.

Segundo o cirurgião otorrinolaringologista, chefe da equipe do Hospital Iguaçu, Dr. Maurício Buschle, muitas doenças podem provocar zumbido e várias causas podem se manifestar em uma única pessoa. Quando causado por exposição a ruído intenso, o zumbido ocorre devido uma lesão nas células da cóclea. Ele varia de intensidade e pode ser permanente ou temporário.

“O acúmulo de cera, por exemplo, pode gerar um zumbido temporário, quando tira essa cera, o ruído passa. E você pode ter perdas auditivas mais sérias, em que o paciente pode perceber um zumbido decorrente de danos nas células sensoriais do ouvido interno, chamada de labirinto, responsável pelo equilíbrio do corpo e pela audição. Se essas células, que transformam energia de som em energia elétrica até o cérebro, forem danificadas, ocorrerá um erro de informação elétrica, que será reconhecido lá no córtex auditivo como um som. Isso é o zumbido”, explica Dra. Rita de Cássia Guimarães, médica especialista em Otorrinolaringologia, Otoneurologia e em doenças do labirinto. Segundo a médica, de dez pacientes que têm zumbido, nove apresentam algum grau de alteração auditiva. Aqueles 10% que não têm problema auditivo também podem ter zumbido, mesmo com a audição perfeita, pois pode ser provocado por alterações fora do sistema auditivo.

É o nosso cérebro que classifica os sons

Não é só a via auditiva responsável pela percepção do zumbido, e sim, uma região cerebral que trabalha na nossa audição todos os dias classificando os sons. Se você escuta um estímulo sonoro na via auditiva, antes de você perceber esse som, ele já passou pela região cerebral, que avaliou se era importante e só então mandou para a parte consciente do cérebro. “Esse processo funciona 24 horas. Exemplo: se você está dormindo e o seu bebê está no outro quarto e faz um barulho, você vai correndo ver o que é. Em outro caso, você está dormindo e lá fora está caindo uma chuva forte, mas só quando acorda vai reparar que choveu. Independente se o som é forte ou fraco, o que percebemos são apenas os sons importantes”, frisa Dra. Rita.

Quem faz isso é o sistema límbico, que comanda nossas emoções. “É muito importante que as pessoas, ao perceberem o zumbido, façam logo uma avaliação otorringolaringológica e busquem um médico especialista em doenças de ouvido, para obter diagnóstico correto”, aconselha Dr. Buschle.


Um zumbido da noite para o dia

Pessoas que percebem muito o zumbido quase sempre têm associação com alterações emocionais que levam o cérebro a prestar atenção e monitorar o sinal o tempo todo. “Quem aperta muito os dentes ou tenciona o pescoço, por exemplo, pode ter um erro de trajeto da informação sonora”, afirma Dra. Rita.

Foi o que aconteceu com o designer de móveis Marcos Edison Ehlke, de 43 anos. Da noite para o dia ele começou a escutar um zumbido constante. “Aquele barulhinho apareceu de repente, mas não demorou muito tempo para me deixar incomodado. Imediatamente procurei um especialista. Os exames diagnosticaram que o problema era da pressão que eu fazia no maxilar”, conta Marcos.

O tratamento começou com o dentista, depois com seções de massagens faciais para evitar a tensão. “Faz dois anos que iniciei o tratamento. Hoje, quase não percebo o zumbido, mas o primeiro passo para não percebê-lo é exatamente não dar atenção a ele. Mesmo que o zumbido não incomode, tente descobrir logo a causa, pois pode ser muito rápido de resolver”, aconselha o designer.

Como tratar o zumbido?

A história do paciente é o primeiro passo no diagnóstico. O tipo de zumbido e a maneira como é relatado podem ser informações úteis na avaliação. “São elas vão determinar a causa, aumentando a possibilidade de melhores resultados, pois será possível tratar de modo específico a doença da qual o zumbido é apenas um sintoma”, diz Dr. Maurício.

Uma solução para alguns casos pode estar na terapia acústica, que consiste no emprego de ruídos alternativos para estimular o paciente a ignorar o zumbido ou, pelo menos, tomar conhecimento que outros sons existem. O método conhecido como Terapia de Habituação do Zumbido (TRT) foi desenvolvido pelo neurocientista polonês Pawel Jastreboff e utiliza sons neutros para auxiliar na filtragem do sinal do zumbido. Dessa forma, o paciente aprende a tratar o zumbido como o som da geladeira da cozinha, por exemplo, o qual quando é ouvido não causa incômodo. “A TRT ajuda o paciente a modificar os reflexos envolvidos nas conexões do sistema auditivo com outros sistemas, treinando as vias auditivas centrais a bloquear a chegada do zumbido. Os pacientes que precisam de aparelho auditivo passam por uma adaptação orientada. Nosso trabalho é muito gratificante, pois conseguimos ver os resultados”, descreve a fonoaudióloga mestre em distúrbios da comunicação, Dra. Izabella Pedriali de Macedo.

O enriquecimento sonoro prevê o uso de sons contínuos e suaves que diminuirão a percepção do zumbido. Esses sons podem advir de Geradores de Som Individuais (aparelhos que emitem um ruído constante). A novidade é o Neuromonics. O dispositivo gera um estímulo sonoro que busca interromper e dessensibilizar o indivíduo para o zumbido. Esse estímulo é individual e personalizado em um cartão. “É uma nova abordagem de estimulação acústica com apoio clínico. O aparelho estimula as vias auditivas com a intenção de promover mudanças neurais que permitirão o cérebro filtrar o zumbido. Isso ocorre devido a flexibilidade e adaptação do cérebro em reconhecer e criar novas conexões neurais”, explica Dr. Maurício.

O paciente usa o dispositivo em alguns momentos do dia. No cartão fica registrado tudo o que ele fez com o aparelho. “O médico avalia isso junto com o paciente. Entre seis e oito meses o problema estará resolvido. É uma grande inovação em tratamento para zumbido”, avalia Dra. Rita.

 

Perda de audição e zumbido?

O paciente que tem perda de audição, zumbido e intolerância ao som, apresenta melhora considerável com o uso de amplificação sonora através de aparelhos auditivos. “Primeiro temos que cuidar da falta de entrada de sinais sonoros. A via auditiva do paciente está em silêncio, pois ele tem uma lesão na cóclea que está mandando estímulo elétrico irregular. Sendo assim, o cérebro tem facilidade para perceber onde está esse zumbido”, afirma Dra. Rita.

O otorrinolaringologista Dr. Maurício, explica que quando a via auditiva não recebe os sons, o zumbido fica altamente percebido. ”Se você coloca trânsito de sons o paciente não vai mais perceber o zumbido, e quem promove isso é o aparelho auditivo. Você ensina o cérebro que esse sinal não é importante. Quando ele aprender, vai descartar o zumbido rapidamente”.

A alta tecnologia vem possibilitando grandes inovações em aparelhos. O mais novo lançamento é o Carina, um sistema auditivo implantável, desenvolvido para reabilitar pacientes com perda auditiva condutiva, mista ou sensorioneural de grau leve a severo. Os sons transformados em sinais elétricos são enviados ao processador de som, que irá enviar a energia mecânica à orelha média, permitindo ao paciente ouvir.

Existem diversos aparelhos e tratamentos para recuperar a audição. Quem se beneficiou dessa tecnologia foi a professora aposentada, Maria José Juraszek Maia, de 73 anos. A história dela começou com uma crise de labirintite há 16 anos. Depois da dificuldade em ouvir, veio também o zumbido. “Descobri que a causa era muscular. Estou fazendo tratamento com fisioterapeuta para relaxar. Já faz dois meses e quase não tenho mais zumbido”, comemora Maria José.

Outra solução para pacientes com zumbidos e perda auditiva severa e profunda é o implante coclear, dispositivo que estimula eletricamente as fibras nervosas remanescentes, permitindo a transmissão do sinal para o nervo auditivo, a fim de ser decodificado pelo córtex cerebral. A eficácia do tratamento do zumbido dependerá da causa do problema e da resposta individual do paciente ao tratamento. Há quem evite tratar o problema. Mas é preciso cuidado: zumbido pode ter um elevado grau de incômodo, levando o paciente à depressão. O importante é saber que sempre há algo a ser feito.

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