Avanços da Medicina

Não adie o seu sono

Permanecer acordado e abrir mão do sono é a receita que quase todo mundo pratica quando precisa trabalhar mais, estudar ou, ainda, quer se divertir ou curtir um programinha. Só que o corpo paga um alto preço por isso

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Os que já passaram por isso sabem o pesadelo que é o dia seguinte após uma noite mal dormida. A inevitável sonolência, o mau humor, a irritabilidade, a desmotivação e a dificuldade em completar suas tarefas afetam o desempenho no trabalho e deixam o indivíduo ainda mais estressado. Mas é preciso ter consciência de que o sono interrompido pode ter consequências bem mais graves do que se imagina. Aos poucos, ele acaba com a sua saúde, disposição e até com a sua carreira. E o pior: pouquíssimas pessoas sabem que esse é um problema tratável. “Para muitos, não dormir bem faz parte da vida corrida de uma cidade grande. É o preço que se paga por trabalhar demais”, diz Dra. Olga Judith Hernandéz Fustes, médica neurofisiologista.

Segundo pesquisas, a qualidade do sono começa a ser afetada entre os 25 e 45 anos. Com o avanço do tempo, as pessoas despertam cada vez mais cedo, dormem menos e acordam mais durante a noite. Todos esses fatores afetam o sono e a qualidade do descanso, assim como a reparação do organismo. Mas há aqueles que dormem a noite toda e, mesmo assim, se sentem cansados na manhã seguinte. A realidade é que essas pessoas podem sofrer distúrbios do sono muito comuns como a apneia, uma parada respiratória que interrompe a oxigenação do corpo e do cérebro, fazendo com que a pessoa desperte 30, 60 ou até 100 vezes em uma única noite sem que ela perceba. Um estudo realizado em 2007, em São Paulo, revelou que 32,9% da população tem apneia. Ela é considerada o mais grave dos distúrbios, a pessoa para de respirar por mais de dez segundos enquanto está dormindo.

“Muitas vezes o paciente não sabe que tem, pois nem sempre ela está associada ao ronco. A apneia compromete o sono R.E.M, que é a fase mais profunda e reparadora, prejudicando todo o restabelecimento do organismo. Primeiro afeta a mente, pois a falta do descanso reduz o nosso raciocínio lógico e a capacidade de memorizar. Depois as consequências são pela falta de oxigenação, que compromete todo o sistema cardiorespiratório e vascular”, destaca Dra. Olga. É então que vem o cansaço e muitas patologias. “Até a obesidade, a diabetes e a depressão estão associadas a esse distúrbio, inclusive a baixa libido e as disfunções sexuais”, revela a especialista.

Era esse sono superficial que estava afetando cada vez mais a vida da costureira Ignés Fonteque Tabis, de 65 anos. “Eu levantava e era como se não tivesse dormido. Durante o dia estava sempre distraída, sem disposição, era muito esquecida e meu trabalho não rendia. Meu cansaço era visível”, lembra Ignés.

A costureira só conseguiu descobrir o que tinha depois que seu cardiologista recomendou que ela procurasse um especialista em distúrbios do sono. “Depois de fazer a polissonografia descobri que sofria de apneia e da síndrome das pernas inquietas, que é o movimento constante e involuntário das pernas no repouso. Hoje uso um aparelho na hora de dormir chamado CPAP, uma máscara que ajuda a inflar o ar pelas vias respiratórias”, revela.

Dra. Olga explica que a polissonografia é um dos exames mais completos para se diagnosticar a apneia e diversos outros males do sono, como o bruxismo e o sonambulismo. O exame consiste em ‘atar’ o paciente a sensores – parecidos com aqueles dos eletrocardiogramas – durante o sono, sempre de sete a oito horas. “O paciente passa a noite na clínica e a polissonografia escaneia toda a atividade neurológica, cardíaca, respiratória, além de outras avaliações dele enquanto dorme. Assim, identificamos quais são seus problemas relacionados ao sono e encaminhamos para o tratamento adequado”.

E não era só Ignés que sofria com este problema. Depois de passar por dois acidentes de carro porque seu marido dormiu ao volante, ela foi procurar ajuda. O diagnóstico dele foi um distúrbio chamado narcolepsia, quando a pessoa tem sono súbito e incontrolável, além de sofrer também com a apneia. “Ele fez o tratamento em 2000 e depois disso voltou a ser a pessoa bem humorada que era antes. Eu comecei no ano passado e agora nós dois usamos o aparelho para dormir. Hoje, acordo com uma disposição enorme. Recuperei minha qualidade de vida e consigo fazer muitas coisas durante o dia. Todo mundo precisa saber que existe tratamento, pois muita gente sofre e chega até a se separar, sem antes procurar ajuda. Existe solução sim”, aconselha Ignés.

E foi exatamente atrás desta solução que a funcionária pública, Cristiane Ribeiro, de 41 anos, encontrou tratamento. “Precisava fazer alguma coisa pelo sono do meu marido e pelo meu também. Ele roncava muito alto e quando percebi que ele também parava de respirar em alguns momentos pensei que já estava mais do que na hora de resolver isso. Foi então que fizemos a polissonografia e foi diagnosticado que ele sofria de apneia”, conta Cristiane.

Durante o sono, o marido de Cristiane, Carlos Gregório, de 42 anos, supervisor do Teatro da Caixa Cultural, não sentia nenhum incômodo aparente. “Eu nem imaginava que ficava até dois minutos sem respirar. O problema estava durante o dia, pois era nesse período que sentia os resultados de uma noite mal dormida, como a sonolência e, principalmente, a falta de memória, o que me atrapalhava muito no trabalho”, diz Gregório.

A recomendação inicial foi o uso do CPAP. “Ele se adaptou muito rápido e o resultado é extremamente positivo. Além de acabar com o meu sofrimento, pois agora ele não ronca mais, também melhorou muito a qualidade de vida dele”, afirma Cristiane. Gregório revela que quando vai viajar a primeira coisa que coloca na mala é o aparelho. “Eu até fiz um teste, ficando dois dias sem usar o CPAP, foi aí que percebi a diferença que faz na minha vida. Não fico mais sem”.

Depois de resolver o problema do marido é que Cristiane se deu conta que o seu sono continuava ruim. “Eu achava que despertava por causa dele. Depois de fazer o exame, descobri que, além de despertar até 70 vezes numa noite, eu também mexia muito os braços e pernas e tencionava o maxilar. A indicação foi o aparelho intraoral, para solução da apneia. Também usei medicamento durante um curto período. Ainda estou me adaptando ao aparelho, mas já acordo sem aquela tensão no rosto e bem mais relaxada”, comemora Cristiane, que recomendou o tratamento para várias amigas, as quais também estão se beneficiando.
Se o seu cansaço também é recorrente, é porque existem fatores perpetuantes e, possivelmente, um distúrbio do sono, que deve ser tratado com critério e por especialistas. Fique atento.

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