Mais consciência corporal
Cada vez mais fisioterapeutas transformam estúdios de pilates em centros de reabilitação e de condicionamento físico funcional
Para a servidora pública Karine Alves Vieira de Lima, passar o dia inteiro digitando trouxe, com o tempo, uma epicondilite medial (espécie de tendinite nos cotovelos) que a impossibilitou de trabalhar. Depois de recorrer a vários tratamentos para atenuar as fortes dores da LER (lesão por esforço repetitivo), sem resultado, a jovem só apresentou melhoras depois que começou a utilizar o método pilates. “Em quatro meses melhorei minha postura e fortaleci toda a musculatura corporal”, conta. Aos trinta anos de idade, ela descobriu que seu problema tinha origem postural, tendo iniciado no joelho, refletido no quadril, costas e acabando por se manifestar nos cotovelos.
O método pilates foi criado pelo alemão Joseph Pilates, que se dedicou exaustivamente a encontrar exercícios que melhorassem sua condição física. Para isso ele estudou anatomia, fisiologia e medicina oriental, buscando encontrar o equilíbrio entre corpo e mente.
A fisioterapeuta Ana Rita Bondaruk, que há oito anos trabalha com correção postural, destaca que o diferencial está na execução do movimento, iniciado pela ativação do “centro de força”, que compreende o controle da força muscular aliado à respiração e concentração. Somados, eles trazem precisão, fluidez e equilíbrio. Foi o que aconteceu com Karine, que voltou a trabalhar em jornada reduzida e deixou o sofrimento e a dor para trás. “Ainda tenho algumas limitações, mas o pilates foi fundamental na minha recuperação”, garante.
De acordo com a fisioterapeuta, a cada sessão a preocupação é com o ganho sistêmico e a consciência corporal do praticante. “A prática regular e bem orientada atinge resultados surpreendentes”, destaca. Os exercícios programados do método recuperam o controle motor, fortalecem os músculos da coluna e aliviam as dores, entre outros benefícios. A maioria dos especialistas concorda que é a atividade física mais eficiente de todos os tempos.
Recuperação e equilíbrio
Ana Rita destaca que o pilates fortalece os músculos fracos, alonga os músculos que estão encurtados e aumenta a mobilidade das articulações, fazendo o que se chama de fortalecer “de dentro para fora”. O abdome, por exemplo, vai ser fortalecido juntamente com o assoalho pélvico (a base em que se apóiam os órgãos). Com auxílio da respiração, é feita a correção postural. “Cada movimento partirá dessa conexão com o centro do corpo”, explica.
Além de fortalecer, alongar e equilibrar toda a musculatura que envolve a coluna vertebral, alinhando e descomprimindo tensões, a técnica ajuda também a aliviar pinçamentos e compressões de discos, facilitando e estimulando a circulação na região afetada. A prática tem sido utilizada com sucesso na reabilitação de artroses, artrite reumatoide e em disfunções músculoesqueléticas como síndrome do piriforme, escoliose, espondilolistese, espondilólise, estenose do canal vertebral, espondilite anquilosante, dor crônica na coluna lombar, síndrome do impacto do ombro, fibromialgia, entre outros.
Pesquisas médicas revelam que quando o pilates é aplicado antes e após a cirurgia de coluna ou de qualquer outra articulação do corpo os resultados são altamente satisfatórios na recuperação do controle motor, fortalecimento dos músculos e alívio da dor. Isso devido à possibilidade de trabalhar movimentos similares aos do cotidiano sem a ação da gravidade e com a coluna apoiada em um equipamento apropriado, acabando com os antigos vícios posturais.
A dona de casa Elenir Stival Boscardim, de 53 anos, começou a praticar o método por recomendação médica depois de uma crise de labirintite. “O pilates me devolveu o equilíbrio e impediu o surgimento de novas crises”, revela, animada pelo prazer de frequentar as aulas. “No meu caso, o alongamento e a massagem realizada no pescoço, com reflexo nos ouvidos, foi crucial no controle do problema”, garante. Ao constatar os benefícios obtidos por sua esposa, José Ricardo Boscardim, 57 anos, também quis aproveitar os benefícios do método, motivado por uma lesão no joelho. “Sempre pratiquei esportes, mas na idade em que me encontro só mesmo o pilates, acompanhado por uma especialista, foi capaz de me proporcionar um bom condicionamento físico, sem comprometer minha lesão, recuperando minha postura e melhorando meu estado geral de saúde”, acredita.
Reduzindo o risco das lesões
Em uma aula de pilates, ninguém faz movimentos automáticos e repetitivos. Pelo contrário: cada pessoa adquire uma perfeita consciência de todos os músculos que está trabalhando. O segredo é o rigor técnico. Portanto, praticá-lo sem a instrução e acompanhamento de um profissional qualificado é perda de tempo, pois cada exercício deve ser feito num ângulo específico, respeitando as limitações e necessidades de cada pessoa, para que os resultados sejam rápidos e eficientes.
Os adeptos do método adquirem autocontrole, músculos firmes, fortes e alongados, postura correta, articulações mais saudáveis, melhor capacidade respiratória e maior tolerância ao estresse. Com efeito, ganham melhor condicionamento físico, flexibilidade, amplitude muscular, equilíbrio emocional e o alinhamento postural adequado. O método é indicado ainda para tratamento de doenças relacionadas ao trabalho, eliminando dores crônicas que não desapareceram com a fisioterapia convencional. “Quando temos uma estrutura músculoesquelética alinhada e preparada, temos um sistema eficiente capaz de executar as tarefas do cotidiano sem desencadear qualquer tipo de dor ou desconforto”, explica a fisioterapeuta.
“Em nossa clinica, o praticante não vem fazer apenas uma atividade física, mas sim um condicionamento fisico funcional, com o objetivo de restaurar a saúde, o bem estar e trazer mais harmonia entre corpo e mente” esclarece Ana Rita.
O diferencial do pilates é a forma como cada pessoa é tratada. O futuro praticante passa por uma avaliação completa, feita por um fisioterapeuta que identifica eventuais distúrbios, procurando conhecer a história, hábitos e expectativas do paciente, independentemente dos sintomas. Essas informações ajudam o profissional a planejar um trabalho específico, para um atendimento ainda mais personalizado, tanto em aulas individuais como em duplas.
Para todas as idades
Ana Rita Bondaruk enfatiza que o pilates promove harmonia e equilíbrio muscular para todas as idades, podendo ser praticado tanto por atletas quanto por sedentários, do idoso ao adolescente, e das grávidas a pacientes em fase de reabilitação. “Os alunos são fotografados em roupa de banho, para que um programa de computador evidencie a situação inicial e indique o tipo de exercício que deve ser acentuado”, explica. Três meses depois, o paciente é re-avaliado e novas fotos são tiradas para acompanhar a evolução do tratamento.
Joseph Pilates elaborou mais de 500 exercícios, utilizando aparelhos específicos para desenvolver o corpo uniformemente. Ao invés de repetir muitas vezes cada exercício, o aluno exercita-se com mais eficiência, exigindo um controle adequado de seu corpo. Devido à necessidade de concentração, ligando a mente ao corpo durante as rotinas de exercícios, o praticante desenvolve maior consciência das suas funções musculares e, assim, passa a controlá-las adequadamente.
Os equipamentos se utilizam da resistência das molas para criar a dificuldade nos exercícios e trabalhar melhor os grupamentos musculares. Desta forma, o método tem a função de combinar a respiração com os movimentos do corpo. Pilates enfatizava a importância de manter uma respiração adequada durante os exercícios, oxigenando o sangue e eliminando os gases nocivos. Por isso, todos os movimentos são associados à respiração. Os exercícios no solo servem para trabalhar a elasticidade e a flexibilidade. Como os exercícios desenvolvem os músculos mais profundos do abdome e das costas, uma melhor postura é inevitável, impedindo, assim, a evolução de desvios vertebrais, melhorando as dores e fortalecendo o sistema respiratório.
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