Medicina

A volta ao mundo dos sons

“O implante coclear me faz pensar e sentir que um mero ruído ambiental, tão banal para nós, tão ignorado pelos que ouvem, pode significar para o surdo uma sinfonia de Beethoven.”Pedro Bloch

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O caminho é longo, mas o prazer e a alegria de poder voltar a assistir e ouvir o show do seu cantor preferido são inexplicáveis. Esse pode até parecer um relato comum para os apaixonados por música, se não fosse uma única diferença: essa fã recuperou sua audição.   A história é da empresária e engenheira civil Gicele Thomson, de 50 anos, que graças a uma cirurgia para implantação de um ouvido biônico, o chamado implante coclear, teve a chance de voltar a ouvir e falar como qualquer pessoa. “O aparelho, colocado no ouvido interno do paciente, capta o som ambiente, codifica em sinais elétricos e passa para os nervos auditivos, possibilitando a uma pessoa surda a capacidade de ouvir”, explica Dr. Maurício Buschle, cirurgião otorrinolaringologista e chefe da equipe multidisciplinar de implante coclear do Hospital Iguaçu, que realizou os primeiros implantes cocleares no Paraná, em 2006.

Graças ao equipamento, hoje Gicele fala e ouve normalmente, funções que antes foram alteradas devido a Síndrome de Meniere, doença caracterizada por episódios de vertigem precedidos por zumbido e perda auditiva. “A doença foi diagnosticada quando tinha 20 anos. Aos 23, senti a perda de forma concreta e minha vida começou a mudar”, conta a empresária.

A comunicação com as pessoas ficou cada vez mais difícil e Gicele parou de estudar e trabalhar. “Aos 26 anos adquiri meu primeiro aparelho auditivo e nunca mais deixei de usar”, revela. Só que em 2008, os aparelhos já estavam fracos. “Fiz vários testes com aparelhos mais fortes, mas a diferença foi mínima. Chegava ao fim a capacidade auditiva dos meus ouvidos com aparelhos”, afirma Gicele.

 

Vida Nova

Em maio do mesmo ano, a empresária procurou o Hospital Iguaçu, em Curitiba. Dois meses depois fez o implante coclear. “A indicação foi da minha fonoaudióloga, que sempre achouque o implante era o meu futuro. O hospital já fazia a cirurgia através de planos de saúde, então me desloquei da cidade onde moro, em Balneário Camboriú, para fazer a primeira consulta. A segurança que a equipe me passou foi incrível e não via a hora de fazer o procedimento”, relata.

Dr. Maurício explica que quanto mais cedo se faz o implante, mais cedo a área do cérebro responsável pela memória auditiva é estimulada e melhores são os resultados. “O funcionamento do implante coclear difere do Aparelho de Amplificação Sonora Individual (AASI). Enquanto o AASI amplifica o som, o implante coclear fornece impulsos elétricos para estimulação das fibras neurais remanescentes em diferentes regiões da cóclea, possibilitando ao usuário a capacidade de perceber o som com clareza, não apenas detectar”, revela o doutor.

O aparelho é ligado cerca de um mês após o implante, tempo necessário para a cicatrização do ouvido e a integração do equipamento. “O pós-cirúrgico foi tranquilo. Depois da ativação é que começa a fase mais difícil. De repente você percebe que está ouvindo uma infinidade de novos sons e aos poucos começa a reconhecê-los. Cada redescoberta era uma vitória. Dois meses após a ativação fui ao meu primeiro show. Foi bom demais”, descreve a empresária.

Voltar a ouvir significou para Gicele independência. “Com certeza minha vida de deficiente auditiva se divide em antes e pós-implante. Não sei dizer o que mais gosto de ouvir. Só sei que ouvir é muito bom”, afirma. Sabe o que ela fez de diferente depois da cirurgia que antes não podia fazer? Comprou um MP3, voltou a se comunicar ao telefone e atende seus clientes sem medo. “Na verdade, minha vida se transformou com o implante”, comemora.

 

Quem pode fazer o implante coclear?

Pacientes com perda de audição profunda e bilateral, ou seja, que não escutam praticamente nada, de nenhum dos lados. Crianças a partir de um ano também podem ser beneficiadas com a cirurgia. Os candidatos passam por uma avaliação multidisciplinar composta por médicos, fonoaudiólogos, psicólogos e pedagogos. Para acompanhar esses pacientes foi montado o Centro de Diagnóstico Auditivo do Hospital Iguaçu (CDAHI), equipado com aparelhos de última geração e com uma equipe completa de especialistas. O implante  também está sendo indicado para pacientes com perdas moderadas e até em casos unilaterais, sendo inclusive um dos tratamentos de ponta para zumbidos.

‘Mãe, você está ouvindo?’

Aos 22 anos, a economiária Danelize Terezinha Burgardt Sartori tinha uma vida muito ativa. Fazia faculdade, trabalhava, participava do Rotaract Club em Canoinhas (SC), cidade onde mora, estudava flauta doce, desfilava para as boutiques e viajava bastante. Em uma tarde na casa de uma amiga, sua vida tomou um rumo diferente. “Na hora de ir embora, fui pentear meus cabelos com o cabo de um pente bem fininho quando, inesperadamente, o cabo entrou no meu ouvido direito, perfurando o tímpano e, como um taco de sinuca, desestruturou a bigorna, martelo e estribo, ocasionando a perda imediata da audição”, conta Danelize, hoje com 46 anos.

Quase um ano após o incidente, a economiária fez uma cirurgia para reconstrução dos órgãos internos do ouvido. “Consegui recuperar a audição no som grave. Só que peguei uma gripe forte e o medicamento que tomei gerou um efeito contrário. A gripe recolheu e perdi totalmente a audição. Desta vez, de forma irreversível”, relata Danelize.

O ouvido esquerdo assumiu a função de mantê-la em equilíbrio. E foi assim, dos 23 aos 46 anos sem ouvir com o ouvido direito. Encaminhada para continuar o acompanhamento com Dr. Maurício Buschle, toda vez que Danelize ia ao consultório perguntava se haviam novidades para ela voltar a escutar. Mas foi neste ano que ela viu um folder na mesa do médico sobre o ‘Teste de Baha’. “Dr. Maurício disse que talvez esse implante fosse bem indicado para mim, e que eu poderia fazer um teste com o aparelho antes da cirurgia. Saí da sala com o aparelho e meu filho de 6 anos me abraçou e perguntou no ouvido surdo: ‘mãe, você está ouvindo?’ E eu ouvi, de fato eu ouvi”, lembra.

Danelize realizou a cirurgia no Hospital no dia 25 de setembro, através do plano de saúde. “Estou muito feliz por vislumbrar essa possibilidade novamente e passar a ter uma qualidade de vida melhor”, comemora a paciente.

“Não devemos ficar conformados com o problema que temos, precisamos ir à luta por uma vida melhor”, aconselha Danelize.

 

Entenda como é implantado o Baha

A técnica consiste na colocação de uma espécie de pino de titânio de 3 a 4 mm dentro do osso do crânio. Por fora, é encaixado o processador de som Baha, que realiza uma vibração imperceptível e conduz o som, através do osso, até a cóclea. A colocação do aparelho é realizada depois de um período médio de três meses, tempo necessário para a integração do pino dentro do osso.

Implante de Baha: uma opção para quem tem problemas no ouvido externo e médio

O Hospital Iguaçu tem apresentado grandes conquistas no tratamento da surdez e de distúrbios auditivos com o uso de aparelhos menores e mais precisos. O implante de Baha (dispositivo auditivo ancorado no osso), por exemplo, pode ser a opção ideal para casos em que a função do ouvido médio está bloqueada, danificada ou obstruída, pois ele ultrapassa completamente o ouvido médio.

Ao contrário dos aparelhos comuns, o som é enviado ao redor da área danificada, estimulando naturalmente a cóclea através da condução óssea. Uma vez que a cóclea recebe essas vibrações sonoras, o órgão “ouve” da mesma maneira como ouviria através da condução aérea; o som é convertido em sinais neurais e é transferido ao cérebro, permitindo que o implantado perceba o som.

Segundo o otorrinolaringologista do Hospital Iguaçu, Dr. André Ataíde, essa é mais uma alternativa eficaz de tratamento de pessoas com problemas auditivos. “O procedimento pode ser feito em pacientes com cinco anos ou mais e que tenham a cóclea em perfeitas condições”, explica o médico.

Gradativamente, a empresária Lea Silvia Ferraz de Mello, hoje com 53 anos, foi perdendo a capacidade de ouvir do lado direito. Isso aconteceu há 11 anos. “A perda foi gradativa até 60%, depois, para quase zerar, foi muito rápido. Usei durante um ano os aparelhos convencionais mais modernos, só que eles já não faziam mais efeito”, conta Lea. Foi sua filha que indicou o implante de Baha realizado pelo Hospital Iguaçu em julho deste ano, Lea fez a cirurgia. “O convívio familiar, a integração com as pessoas, a qualidade de vida, a autoestima. Tudo está 100% melhor. Escuto todos os sons ambientes, até o meu cabelo roçando no ouvido”, comemora a empresária.

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