Medicina

Enxergando novos horizontes

Diagnóstico correto, aliado a técnicas avançadas, melhora a acuidade visual e controla o avanço do ceratocone. Você sabe que doença é esta?

enxergando-novos-horizontes+hospital-barigui

O que pode preocupar muito uma pessoa que está enxergando mal é descobrir que está com ceratocone, uma doença degenerativa que gera muitas dúvidas nos pacientes, principalmente, quanto a sua cura e tratamento. A boa notícia é que hoje existem procedimentos que, se não curam, amenizam ou corrigem este problema de visão: uso de óculos ou lentes de contato e técnicas cirúrgicas menos invasivas – como o implante de anel intracorneano com laser femtosecond e o crosslinking de colágeno de córnea. Alternativas eficazes para que o paciente com ceratocone tenha melhora da acuidade visual e preserve sua qualidade de vida. Porém, é importante ressaltar que a eficácia destes métodos vai depender do estágio em que se encontra a doença.

De um modo geral, o ceratocone atinge adultos jovens, e sua principal característica é o aumento e irregularidade das curvaturas corneanas. Isto faz com que a córnea assuma uma forma de cone (por isso o nome), provocando a percepção distorcida das imagens, com diminuição da visão, muitas vezes associada à miopia ou ao astigmatismo. É uma das doenças mais comuns dos olhos e, na maioria dos casos, aparece na puberdade, sendo que pode evoluir rapidamente ou levar anos para se desenvolver. Quando evolui, compromete de forma intensa a capacidade visual das pessoas, prejudicando sensivelmente a execução das tarefas diárias. “A primeira regra é a realização de exames preventivos periódicos. Isso é fundamental, principalmente para pacientes que apresentam mudanças de grau muito frequentes ou quando sua visão não atinge a perfeição mesmo com o uso de óculos”, alerta o médico oftalmologista Dr. Artur Schmitt, do Hospital Barigui de Oftalmologia, que fez especialização em córnea e cirurgia refrativa no Bascom Palmer Eye Institute da Universidade de Miami, nos Estados Unidos, um dos maiores e mais renomados centros de oftalmologia do mundo.

O atleta de MMA Rafael Ribeiro, de 27 anos, praticante de jiu jitsu e muay thai, detectou ceratocone por volta dos 17 anos. Embora usasse óculos e depois lentes de contato, a doença progrediu tanto que, aos 25 anos, o atleta já estava com grande dificuldade em enxergar, prejudicando sua qualidade de vida. “Não conseguia ver mais nada. Parei de dirigir, assistir TV, usar o computador, entre outras coisas. Fiquei cheio de limitações”, relata. Antes dos 17 anos, Rafael não tinha nenhum problema de visão e só percebeu que algo estava errado quando, no colégio, teve que sentar nas carteiras da frente. “Minha mãe também notou que para ver televisão eu precisava sentar muito próximo da tela”, acrescenta. Da manifestação dos sintomas até a procura por um especialista, apenas dois meses se passaram, entretanto, a doença progrediu rapidamente em pouco tempo. Rafael procurou a equipe de ceratocone do Hospital Barigui de Oftalmologia e foi avaliado pelo Dr. Artur Schmitt. Após realizar alguns exames computadorizados, o paciente foi submetido ao implante de anel intracorneano, por meio da técnica de femtosecond (laser), o que mudou sua vida. “Em 15 minutos estava operado. Não senti dor e, dias depois, estava enxergando novamente, o que me permitiu voltar às atividades normais. Foi uma maravilha”, comemora Rafael.

 

Causas e diagnóstico

Embora não se conheça as reais causas do ceratocone, sabe-se que ele pode estar associado a diferentes motivos, como fatores hereditários, alérgicos e condições sistêmicas, ou ainda estar relacionado a mudanças físicas, bioquímicas e moleculares no tecido corneano. Além disso, é uma doença que pode passar por períodos de agravamento e, raramente, de estabilização. O diagnóstico definitivo é feito com base nas características clínicas do paciente e confirmado por meio de exames computadorizados da córnea. O ceratocone acomete, geralmente, os dois olhos, de forma assimétrica, e sua evolução é quase sempre progressiva, com aumento do astigmatismo irregular e deterioração da qualidade de visão. “Na maioria dos casos, o ceratocone que não é tratado apresenta um caráter evolutivo, com piora progressiva da visão. Por esta razão, pacientes que ainda têm boa visão devem realizar acompanhamento, buscando interromper esta progressão”, acentua Dr. Schmitt.

 

Crosslinking e Técnica de Femtosecond

As duas técnicas são grandes avanços no tratamento do ceratocone. O crosslinking, uma combinação de radiação ultravioleta (UVA) e riboflavina (vitamina B2), tem por objetivo diminuir ou estabilizar a progressão do ceratocone. Ao utilizar a luz UVA e a riboflavina, o crosslinking cria novas ligações entre as moléculas de colágeno adjacentes, capazes de produzir um aumento da rigidez corneana, deixando-a mais resistente e interrompendo a progressão do ceratocone. “Embora existam poucas limitações para a aplicação do crosslinking, como em pessoas com córneas muito finas e deformadas, esta técnica pode conter a evolução da doença e até evitar o transplante de córnea”, alerta o oftalmologista do Hospital Barigui. Segundo ele, este procedimento já vem sendo utilizado na Europa há muitos anos, com excelentes resultados, mostrando que é realmente capaz de conter o avanço da doença. No Brasil, devido aos excelentes resultados, o tratamento com crosslinking já é reconhecido pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia e também pelo Conselho Federal de Medicina.

Já o anel intraestromal ou intracorneano tem o objetivo de melhorar a visão de pacientes com ceratocone. Atualmente, o anel pode ser inserido entre as camadas da córnea com a nova técnica de laser de femtosecond, que tornou este tipo de implante muito mais seguro, rápido e com resultados ainda melhores. Em geral, tanto o implante de anel intraestromal quanto o do laser de femtosecond são realizados em poucos minutos, somente com o uso de anestesia por colírios, sendo que o paciente não precisa ficar internado e já sai do centro cirúrgico com uma visão melhor. Em alguns casos, as técnicas de implante de anel intraestromal e crosslinking podem ser associadas, visando resultados ainda mais significativos.

O transplante

Pacientes em estágio muito avançado, cuja córnea encontra-se muito fina ou apresenta opacificações centrais, podem ser submetidos ao transplante de córnea, que também é passível de ser realizado através da técnica de femtosecond. Felizmente, o transplante de córnea tem indicação para apenas 5% dos pacientes com ceratocone, porém, com excelente expectativa de melhora da visão após o procedimento.

+ Saiba mais

Artigos Relacionados