Avanços da Medicina

Resultados mais rápidos e eficazes

Nos últimos anos, uma das inovações mais impressionantes e com maior variedade de aplicações possíveis na área médica é a radiologia intervencionista. Uma especialidade médica que através de tubos finíssimos e de aparelhos de imagens, consegue atuar no interior de nosso corpo de forma nunca antes imaginada. Por ser minimamente invasiva, uma vez que se utiliza de cortes muito pequenos para inserir nas veias e artérias minúsculos catéteres, stents, molas ou agulhas para realizar procedimentos e fazer diagnósticos em diversas partes do corpo, esse avanço da ciência ampliou os horizontes da medicina.

Atualmente, a radiologia intervencionista é uma alternativa eficaz às cirurgias complexas, que exigem grandes cortes e anestesia profunda. Os procedimentos são realizados com o auxílio de um método de imagem, que pode ser o ultrassom, a tomografia computadorizada, a angiografia por subtração digital e a radioscopia, equipamento de alta resolução de imagem capaz de subtrair as imagens de ossos, vísceras e até de paredes de vasos sanguíneos.

“As principais vantagens da radiologia intervencionista estão no menor risco para o paciente, por não ser tão agressiva, na rapidez da recuperação e no curto período de internamento, quando necessário, pois em muitos casos o paciente é liberado no mesmo dia”, afirma Dr. Alexandre Corvello, médico especialista em radiologia intervencionista.  Segundo ele, a indicação é específica para cada paciente, e em alguns casos não substitui a cirurgia convencional.

Visando o tratamento mais adequado para cada tipo de doença, a radiologia intervencionista tornou-se elemento essencial dos grupos médicos multidisciplinares nos melhores hospitais do país. Os procedimentos intervencionistas podem ser utilizados em diagnósticos e tratamentos relacionados à gastroenterologia, cirurgia geral e vascular, nefrologia e urologia, ginecologia, neurologia, pediatria, oncologia, entre outras. Portanto, é uma especialidade bastante versátil.

Sem dúvida a radiologia intervencionista torna-se, a cada dia, mais relevante e indispensável na medicina moderna. Os exemplos a seguir são apenas alguns dos benefícios que a especialidade pode oferecer, envolvendo mais de 50 tipos diferentes de procedimentos por todo o corpo, com as mais diversas finalidades. Na atualidade, a radiologia intervencionista não é mais um diferencial nas instituições hospitalares, mas sim uma necessidade.

“A interdependência das várias especialidades médicas com a radiologia intervencionista chega ao ponto de tornar um fator de risco adicional a não-existência deste serviço”, destaca Dr. Corvello.

 

Coluna

Em relação à ortopedia, a radiologia intervencionista trata principalmente as dores na coluna vertebral. Um exemplo no qual este método se aplica com alta taxa de sucesso (em torno de 80% a 90% dos casos) é no tratamento de vértebras fraturadas ou fraturas associadas a doenças como a osteoporose. Nestes casos, a indicação mais adequada é a vertebroplastia percutânea, um procedimento que utiliza cimento ortopédico injetado diretamente na vértebra que apresenta a lesão, criando um bloco sólido que dá sustentação e elimina dores, mesmo em pacientes muito idosos e com quadro avançado de osteoporose. A volta às atividades normais, após a intervenção, pode ser feita em dois ou três dias, acelerando não só a recuperação física como também melhorando a disposição psicológica dos pacientes.

 

Cérebro

No que se refere à neurologia, a especialidade está voltada para o diagnóstico e tratamento de doenças do cérebro, cabeça e pescoço, por meio de um catéter que viaja dentro do corpo através dos vasos sanguíneos. No tratamento de aneurisma cerebral, a radiologia intervencionista soluciona o problema sem a necessidade de cirurgia. A técnica é chamada de embolização de aneurisma cerebral.

Fígado

Comumente associado à cirrose e ao vírus da hepatite C, um tipo de tumor de fígado, chamado carcinoma hepatocelular, tem entre as indicações específicas de tratamento a ablação por radiofrequência. O método consiste na introdução de uma agulha que chega ao tumor e conduz uma onda de radiofrequência, “queimando” e destruindo células afetadas pelo câncer. Todo o procedimento é guiado por imagens geradas através de aparelhos de utrassom e tomografia computadorizada. Conhecido no meio médico através da sigla em inglês “tips”, o shunt intra-hepático porto-sistêmico também é muito comum e cria uma comunicação entre duas veias dentro do fígado, fazendo com que o estado de hipertensão da veia seja descomprimido. Poucos médicos radiologistas intervencionistas realizam esse procedimento no Brasil. Outro procedimento intervencionista é a drenagem biliar, em que um cateter é colocado através da pele do interior do fígado para drenar a bile, aliviando quadros de indisposição e coceira (prurido) intensa que afetam a qualidade de vida dos pacientes.

 

Útero

A embolização de mioma uterino é um dos procedimentos mais comuns da radiologia intervencionista e consiste na injeção de minúsculas partículas que bloqueiam o fluxo sanguíneo que alimenta o mioma (tumor benigno), fazendo-o regredir e solucionando o problema com um grau de sucesso entre 85% e 95% dos casos. Este tratamento pode ser uma alternativa efetiva à cirurgia tradicional, na qual é retirado o mioma (miomectomia) ou todo o útero (histereectomia). Na embolização, a anestesia é local e o tempo de recuperação é menor, o que propicia um retorno rápido às atividades normais, o útero é preservado e muitas mulheres conseguem até engravidar após o tratamento.

Câncer

A radiologia intervencionista é uma aliada cada vez mais importante tanto na biópsia quanto no tratamento mais rápido, seguro e indolor, pois pode ser utilizada quando o câncer não tem indicação cirúrgica, e principalmente nos casos de câncer de pulmão, mama, ovários, testículos, linfomas e leucemias. Estudos mostram que em 70% dos casos reduz as lesões, as dores, melhora a qualidade de vida e pode aumentar a sobrevida. Para alguns tipos de tumores, a quimioembolização é a técnica de tratamento indicada. Pelo catéter, é injetada uma combinação de medicações quimioterápicas para eliminar as células cancerígenas, seguida de pequenas partículas para bloquear as artérias que alimentam o tumor.

 

Artérias, veias e vasos

Na área vascular, a radiologia intervencionista envolve todos os procedimentos que utilizam artérias e veias como via de acesso para que o catéter chegue ao órgão doente, principalmente utilizada no tratamento de embolia de pulmão e varicocele. Por meio dessa especialidade também são realizados procedimentos para reabrir ou ampliar vasos sanguíneos obstruídos, como no caso de arteriosclerose (endurecimento das artérias) e aneurisma de aorta abdominal e torácico, além da dilatação das artérias carótidas e vertebrais que levam o sangue ao cérebro.

A obstrução da passagem de sangue pode levar à perda de membros, derrame cerebral ou comprometimento de órgãos vitais por ocorrência de infartos, derrames e aneurismas. Pacientes que fazem tratamento de hemodiálise ou quimioterapia também são beneficiados com a técnica, que possibilita a abertura de um acesso venoso central: um tubo é inserido pela pele, obtendo-se um acesso simples e indolor para medicações ou coleta sanguínea, livrando o paciente de picadas repetitivas.

Dr. Alexandre Corvello é membro da Sociedade Americana de Radiologia (RSNA), da Sociedade Europeia de Radiologia Intervencionista (CIRSE), da Câmara Técnica da Alta Complexidade em Procedimentos Cardiovasculares do Ministério da Saúde. É também membro fundador da Sociedade Brasileira de Radiologia Intervencionista e Cirurgia Endovascular (SOBRICE), diretor do Departamento de Normatização da SOBRICE e chefe dos serviços de radiologia intervencionista dos hospitais Universitário Evangélico, São Vicente – FUNEF, Santa Cruz e Cajuru, além de radiologista intervencionista do Hospital Vita e da Cruz Vermelha, em Curitiba.

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