Medicina

Melanoma

A prevenção começa na infância

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O verão de 2014 foi um dos mais ensolarados dos últimos 10 anos, com temperaturas acima dos 30ºC em quase todo o país. Com isso, a população aproveitou as férias para ir à praia, se refrescar e se bronzear. O problema é que a incidência dos raios ultravioleta ficou ainda mais forte neste período, o que significa que ficamos também mais suscetíveis aos danos causados pelo sol e, num efeito cumulativo, ao câncer de pele.

O agravante é que os raios ultravioleta (UVA e UVB) têm ultrapassado cada vez mais a barreira da camada de ozônio, chegando mais intensos na Terra e expondo as pessoas a riscos cada vez maiores. Segundo publicação recente do Instituto Nacional do Câncer (INCA) sobre estimativas da doença para 2014, é prevista uma incidência de 2.960 novos casos de melanoma de pele (câncer maligno) em homens e 2.930 em mulheres, sendo que a região Sul é uma das mais afetadas, devido à prevalência da pele e olhos claros. Todo cuidado é pouco quando se fala em exposição solar.

Conforme o Consenso Brasileiro de Fotoproteção de 2013, formado por membros da Sociedade Brasileira de Dermatologia, o Brasil é um dos países com maior insolação do mundo, uma vez que a maior parte do território brasileiro recebe radiação solar em um ângulo próximo a 90 graus em relação ao horizonte (sol a pino) durante o verão. “Por esse motivo, devemos tomar todos os cuidados para evitar a exposição solar ou, caso isso não seja possível, usar corretamente as medidas fotoprotetoras”, adverte o oncologista Dr. Roger Akira Shiomi, membro titular da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, que atua no Instituto de Hematologia e Oncologia Curitiba (IHOC).

Há oito anos, o administrador Ricardo Faria da Silva, de 49 anos, descobriu uma pinta próxima ao umbigo depois de passar uma temporada no Nordeste. A pinta foi aumentando, coçava e tinha um aspecto gelatinoso. Ele logo procurou um médico. “Fiz os exames, uma raspagem e tive a indicação de cirurgia, pois se tratava de um melanoma. Dois anos depois, apareceu um caroço na axila direita e depois no pescoço. Fiz novas cirurgias e me submeti à quimioterapia. No início da doença cheguei a fazer terapia para enfrentar a depressão, mas hoje adquiri confiança no tratamento, aprendi a superá-lo e faço planos para o futuro”, relata o paciente. “Sei que, no meu caso, vou conviver com a doença para o resto da vida, por isso, o mais importante é ter fé e uma cabeça boa”, ressalta.

 

O que é melanoma?

Os melanócitos são as células que produzem o pigmento da pele, chamado de melanina. Quando o crescimento destas células acontece de forma desordenada e anormal, pela predisposição genética ou exposição excessiva e repetida ao sol ou à radiação ultravioleta (em câmaras de bronzeamento, por exemplo), forma-se um tumor maligno denominado melanoma, que pode se disseminar pelo corpo caracterizando a doença metastática, de difícil controle e que pode ser fatal. Os tipos de câncer de pele mais frequentes são os carcinomas basocelulares e os carcinomas epidermoides, menos perigosos que o melanoma.

 

Sobrevida graças à detecção precoce

O melanoma é o câncer de pele mais agressivo e, se não for diagnosticado a tempo, pode causar a morte. Estudos revelam que sua incidência tem aumentado cerca de 3 a 8% ao ano em muitos países com predomínio de ascendência nórdica, atingindo 160 mil novos casos por ano no mundo. “Contudo, as pesquisas revelam que a taxa de sobrevida tem melhorado muito, pois, na década de 1960, cerca de 60% dos pacientes diagnosticados com melanoma morriam da doença. Nos dias atuais, essa taxa caiu para 11%, o que atribuímos principalmente à detecção precoce”, revela o oncologista.

Por isso, vale o alerta: se você notar alguma saliência, pinta, mancha ou verruga na pele que mude de aspecto em determinado momento, coce ou sangre, seja assimétrica, possua bordas irregulares e coloração estranha, procure imediatamente um especialista. É possível diagnosticar a doença a tempo de preservar sua saúde e salvar sua vida. O diagnóstico precoce do câncer de pele representa 90% das chances de cura.

 

Caminho da cura

O autoexame e a consulta periódica ao médico são de grande valia para o diagnóstico precoce do câncer de pele. Primeiro, o paciente é submetido ao exame clínico, que avalia o tipo de lesão. Em seguida, é feito um exame com dermatoscópio, que determinará a necessidade da biópsia (retirada da lesão para exame histopatológico). Realizado o diagnóstico, é então indicado o tratamento apropriado, que pode incluir cirurgia, quimioterapia, radioterapia, imunoterapia (drogas específicas que estimulam o sistema imunológico a combater e eliminar a patologia), terapia alvo-molecular (medicamentos que agem sobre alterações específicas da célula maligna) ou a associação de alguns desses tratamentos.

Para o representante comercial Airton de Jesus Stadler, de 58 anos, os primeiros sinais da doença apareceram há mais de seis anos, depois de uma luxação no dedo médio durante jogo de futebol. “O dedo inchou e a unha vinha com ranhuras pretas, além de ter um aspecto escuro por baixo, parecendo um fungo. Durante três anos, consultei dermatologista, podólogo, até que me indicaram um oncologista. Foi quando fiz biópsia e descobri o melanoma, precisando amputar o dedo na segunda falange”, relata o paciente. Um ano depois, uma tosse forte o levou a fazer novos exames, que detectaram manchas nos pulmões e, no mesmo período, na tireoide.

O paciente foi submetido, então, à nova cirurgia, quimioterapia e imunoterapia. “Após o tratamento, a doença está estabilizada, hoje estou bem e levo uma vida normal. Não me sinto doente e trabalho normalmente. O importante é aceitar a situação e buscar o que existe de melhor para tratar a doença com confiança, além da força que não sabemos que temos, mas que existe”, ressalta.

A opção de tratamento mais indicada para o melanoma cutâneo em fase inicial é a cirurgia para a ressecção total do tumor, na tentativa de evitar o aparecimento de metástase (disseminação das células cancerosas pelo corpo). Já no âmbito da doença metastática, novas medicações têm apresentado excelentes resultados. “Os maiores avanços no tratamento do melanoma metastático ocorreram a partir de 2010. Um melhor entendimento da imunoterapia e de alvos e vias moleculares propiciou o desenvolvimento de duas drogas que aumentaram consideravelmente a sobrevida global”, informa o médico oncologista Roger Shiomi.

 

Como prevenir?

A prevenção do câncer de pele começa na infância. Isso porque o histórico de queimaduras solares nesse período tem relação com o aumento do risco de desenvolver melanoma na idade adulta. Assim, a recomendação, que vale para pessoas de todas as idades, é evitar a exposição ao sol no período entre 10 e 15 horas.

O uso de medidas fotoprotetoras, que oferecem barreira física ou mecânica à radiação solar, também é de grande importância. Aí se incluem roupas, óculos de sol, coberturas naturais ou artificiais e vidros. Hoje, inclusive, já existem roupas e acessórios vindos de fábrica com fotoproteção.

A recomendação mais importante é o uso correto do protetor solar, de preferência durante todo o ano, e não somente no verão. A Sociedade Brasileira de Dermatologia recomenda o uso de protetores solares de FPS mínimo de 30, devendo ser reaplicado a cada duas horas, principalmente durante o verão. Esses cuidados devem ser tomados não só nas praias e piscinas, mas também nas montanhas, onde os raios solares são ricos em raios ultravioleta, e nas cidades, no dia a dia. Portanto, é preciso também se proteger de superfícies refletoras, como areia, neve, concreto e água, que fazem com que os raios nocivos atinjam a pele de forma indireta.

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